quinta-feira, 26 de julho de 2007

Vaiar Presidentes faz parte da história do Brasil

Reportagem de Fernando Rodrigues na "Folha de S. Paulo" de 24 de julho de 2007 mostra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomou sua agenda de compromissos públicos no país, evitando, porém, passar pelas regiões Sudeste e Sul. Ao que tudo indica, como registra a imprensa, isso se deve ao temor presidencial de receber mais vaias, como aquelas que Lula amargou na abertura dos Jogos Pan-americanos, no Rio de Janeiro.

Muitos comentaristas políticos já deixaram bem claro que um homem público não pode temer vaias, de vez que elas pertencem ao jogo democrático. O historiador Marco Antonio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos (SP), lembra que as manifestações desse tipo também fazem parte da história do Brasil republicano.

"Outros presidentes presenciaram manifestações do tipo", conta Villa, "Campos Sales, nosso segundo presidente civil, foi também o primeiro a ser vaiado no Rio de Janeiro". "Na verdade, Sales já recebeu apupos antes de ser presidente, após renegociar a dívida brasileira em Londres, em condições muito desfavoráveis", explica Villa e acrescenta: "mas no encerramento de seu mandato ele deixou o Palácio do Catete também abaixo de vaias estrondosas".

Bernardes e Vargas
O historiador lembra que, ainda na 1ª. República, o campeão em matéria de ser vaiado foi o presidente Artur Bernardes. "Já na campanha eleitoral Bernardes se tornou alvo das manifestações de repulsa da população", relata Villa, "mas o recorde foi batido no trajeto da cerimônia de posse, quando ele foi vaiado ininterruptamente". E convém lembrar que Bernardes tomou posse e governou quatro anos sob estado de sítio.

O último presidente da República velha, Washington Luís, também foi vaiado ao partir para o exílio, como dizem alguns manuais de história? Villa tem suas dúvidas. "Mas uma coisa é certa, Getúlio, que o sucedeu, não foi vaiado nunca, nem como presidente e muito menos como ditador, é claro."

Castelo, Figueiredo e Sarney

"As vaias voltam à história no início do regime militar de 1964", explica o professor Villa. "Há dois registros de apupos contra o marechal Castelo Branco: uma em 1965, quando o militar-presidente dava uma aula inaugural na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e outra no ano seguinte, por 40 mil pessoas, não por acaso no Maracanã".

Segundo Villa, "depois do AI-5, somente o general João Batista Figueiredo foi vaiado na presidência da República". "Isso ocorreu em 1979, em Santa Catarina", relembra o historiador, "e Figueiredo não hesitou em partir para cima de um dos manifestantes, visando agredi-lo."

Com a redemocratização, coube a José Sarney amargar as manifestações de desagrado da população e elas não se limitaram a ser sonoras. "Sarney foi vaiado em 1987 na Praça 15, no centro do Rio, após o plano Bresser. A multidão não só xingou o presidente, como a janela do ônibus em que ele era transportado foi quebrada por um objeto, que o feriu levemente na mão".

A maior vaia do mundo
Depois de Sarney, Collor também teve de engolir vaias no Rio de Janeiro. "Foi em setembro de 1992", diz Villa, "antes do impeachment. O presidente tinha ido visitar a mãe, dona Leda, que estava hospitalizada".

Desse modo, pode-se concluir que o Rio de Janeiro é certamente o Estado recordista em ululantes protestos a presidentes na história do Brasil. Marco Antonio Villa, porém, faz questão de lembrar que a maior vaia de todos os tempos foi sofrida pelo presidente mexicano Miguel de la Madrid, na Copa do Mundo de 1986, naquele país.

"De la Madrid foi vaiado durante todo o seu discurso de abertura dos jogos, num espetáculo que foi transmitido para o mundo inteiro pela televisão." "No entanto", relembra o historiador, "o presidente mexicano se portou com grande dignidade, não interrompeu seu discurso, que leu até o final. Depois disso, ainda permaneceu no estádio Azteca e assistiu à chocha partida entre a Itália e a Bulgária, que terminou 1 X 1."

Fonte:Uol Educação

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